Idyllios
- Detalhes
- By Raimundo Corrêa
- Coletânea: Primeiros sonhos
I
Renasce o dia ! a várzea
Marcheta-se de flor —
Pelo pomar fructifero
Balsamo, luz, frescor...
Sobem ao ether plácido
Os hymnos do arrebol,
Tornam-se as nuvens pallidas
Roxas á luz do sol.
Vôam, no brejo, querulas
Brisas a latejar,
Roça a gaivota cândida
Co'a ponta d'asa o mar...
'Do céo co'as cores tinge-se
O lago verde-azul —
Alma fragrancia o zephyro
Traz dos vergeis do Sul
Do mar a onda turgida
O pescador rompeu,
Pulando a escuma frigida
Borrifa o rosto seu.
Eu vejo alem... nos paranios
Um ponto a se perder,
E um batei que some-se
P'ra nunca mais se ver...
Deriva o rio do vértice
Da serrania, lá...
Desata o canto melico
Mellifluo sabiá.
As folhas brilham, córam-se
Os bagos do café;
De moça um lábio rubido
Mais rubido não é.
Trinam além os pássaros
No erguido coqueiral
Dá catadupa aos vomitos
De límpido crystal.
Estrella d'alva rútila !
Lua que esmaia alem !
Saudo-vos ! saudo-te
Oh! rubro sol também !
Entre a folhagem madida,
Que a brisa faz bulir,
Passam correndo céleres
As moças a sorrir.
As flores odoriferas
Oscula o beija-flor,
D'amor mimoso symbolo
Ensina a ter amor.
Se a flor e as aves beijam-se,
Se amores tudo tem,
Moças gentis, amemo-nos
Beijemo-nos também !
Sou fatalista; aos vínculos
Do amor não fujo, não ;
É meu destino — adoro-vos
Muzas do coração !
À sorte eu não esquivo-me,
Quem póde se esquivar ?
Sou muito moço e sinto-me
Com forças para amar !
O goso é tão ephemero !
Ha tanto dissabor I
A vida passa rápida
E cifra-se no amor !
Deus dá candura aos lyrios,
A's rosas — o nacar,
E dá ao homem o animo
P'ra ser amado e amar !
Amor ! murmura o pélago,
O prado, a relva, a flor,
O lago, a brisa, o córrego...
Tudo murmura amor!
Oli! natureza provida!
És rica de encantar !
A minha sina eu cumpro-a,
Vivendo para amar !
É dia ! entoam cânticos
A terra, o mar, os céus...
Lá do infinito soltam-se
Benções das mãos de Deus !
II
Acorda — meu amor — vem ver na aurora
Como a várzea é louça !
No tapete da relva verdejante
Treme a gota de prata scintillante
Do orvalho da manhã !
Acorda — meu amor — vem ter commigo
Por baixo dos cafés !
Eu vou buscar-te à beira da choupana,
P'ra render-te homenagens de sultana
Deitando-me a teus pés !
Acorda —meu amor —quero com sustos
Contar-te um sonho meu!
Quero — qual morre a humilde borboleta
No seio perfumado da violeta —
Morrer no seio teu!
Rio-1877