Chimera
- Detalhes
- By Raimundo Corrêa
- Coletânea: Primeiros sonhos
Ergue-se a lua na cerulea tela
Rutilam astros e palpita o mar,
Abrem-se os seios da magnolia bella,
Fecham-se as palmas do gentil palmar !
E' bella a noite : tem a brisa — afagos,
Verdura — os prados, os jardins — festõôs ;
Brando, amoroso latejar os lagos,
As brancas fadas do luar — canções !
Estruge ao longe a cachoeira enorme,
Vem sobre as penhas em cachão ferver !
Emquanto a terra embalsamada dorme,
Eu vou saudoso ao bandolim gemer !
E vejo sempre a pensativa imagem
Da linda filha dos sonhares meus,
Dormida ou quieta na gentil folhagem,
O corpo em terra, o pensamento em Deus!
Scisma — e não sente na dourada trança
Passar gemendo o merencório sul;
Ri-se — blandicias d'infantil creança,
Chora — é a lua no celeste azul!
Dorme — n um berço de verdura e flores
A nivea garça dos vergeis do céo !...
Jesus ! eu vejo-a a palpitar d'amores
E sempre envolta do pudor no véo !
Huri tão pura — d'um gentil serralho
Dorme indolente nos rosaes em flor !
Solta a madeixa — tem no lábio o orvalho,
No seio as ondas de innocente amor !
Eu vejo-a sempre ! na saudosa calma
Rápida some-se a gentil visão !
Minh'alma busca conhecer su'alma,
Buscam meus lábios só beijar-lhe a mão !
1877.