Flor
- Detalhes
- By Raimundo Corrêa
- Coletânea: Primeiros sonhos
Abre-te flor ! thesouro
E de innocencia cofre !
Dorme em teu calix d'ouro
O matutino aljofre !
Eia ! não vês creança ?
Alem desponta o sol!
Desprende a loira trança
Ao lúcido arreból!
Tu és — faceira filha —
O doce olor, que entorna
A's auras a baunilha
Na hora da sésta morna !
Um mavioso harpejo
De cithara ideal,
De luz solar um beijo
Em prisma de crystal,
Geram-te — rosa supplice !
Que amor e que innocencia
Formam-te o ser ! é duplice,
Duplice a tua essencia !
Córa-se á luz d'aurora
A desmaiada flor,
Teu rosto lindo cora,
Quando eu te fallo — amor !
Se junto a ti — perplexo,
Eu fito alguma estrèlla,
Nem sei se é teu reflexo,
Se és o reflexo d'ella !
Teu seio rescendente
Esquiva-se ao olhar,
Na gaze transparente
D'alvura do luar!
Na infância vaporosa,
Do sol ao raio louro,
Abre o teu seio, rosa,
Rosa do calix d'ouro !