É noite ! o céo arreia-se d'estrellas
A terra a illuminar !
Por entre as ramas da taquara verde
Peneira-se o luar!

Enche os ares o aroma, que transpiram
As flores da mangueira !
Dos sertanejos os semblantes brilham
Ao lume da fogueira !

Junto ao fogo, phantasticas historias
Um velho está contando
A'quelles, que o escutam, as espigas
De milho debulhando !

A mesa do banquete está repleta
No meio da folhagem,
E a toalha de rendas lá se agita
Aos osculos da aragem !

Vem a noiva de lyrios coroada,
Dá o braço, faceira,
Ao noivo, que devora com os olhos
Os seios da roceira !

Reina o prazer ! Lá salta p'r'o terreiro
Um bello rapagão — 
Sapateia sorrindo, enamorando
As filhas do sertão !

Outros mancebos na viola rude
Dedilham cantilenas,
Morrendo aos risos joviaes e francos
Das languidas morenas !

Redobra-se a funcção ! surge a girandola
Do centro dos palmares ;
Chuvas de rosas, calorosos vivas
Vão agitando os ares !

Reina o prazer na multidão pacifica...
Suspiram as violas,
Moços e moças no terreiro bailam
Ao som das castanholas !

E é noite ainda ! da lagoa á beira
Se dobra o nenuphar —
Entre a ramagem da taquara verde
Peneira-se o luar! 

Quando a lua mergulha em nuvens baças
O rosto acabrunhado,
Finda o banquete — e a noiva se dirige
Ao leito do noivado !

Mas o noivo do amor no floreo ninho
Primeiro se deitou, 
E a noiva na janella, pensativa,
O céo inda fitou !

Depois .. ella descalça os sapatinhos
Forrados de setim,
Sorri-se com malícia, o véo arranca
E se reclina emfim !