Tu, sim; tiveste a trágica coragem
de ir procurar a morte, ousadamente.
Não te agarraste às bordas da voragem,
misérrimo e tremente...

Viste que não há nada nesta vida,
onde não brote a sensação da Dor
e que a nossa existência vai perdida,
frágil embarcação sempre batida
num mar cheio de horror.

Viste e tiveste a nobre heroicidade
de quebrar os grilhões de tua sorte:
seguiste firme, com serenidade,
à procura da Morte!

Dizem que é covardia... E, no entretanto,
tremem junto do lúgubre cairel...
Dizem que é covardia... E o medo é tanto
que — só para viver — negam o pranto,
negam a dor cruel...

Eu quisera lhes dar o calafrio
que me sacode os nervos doloridos,
que me agita a medula e que, sombrio,
me entorpece os sentidos,

quando eu penso no fim desta existência;
na Morte: a tétrica: a feral visão!
e sei que há de extinguir-se a Consciência
e as Formas rolarão na turbulência
do eterno turbilhão!

De que serve lutar? ser justiceiro?
ser virtuoso e nobre e corajoso?
se a todos traga o abismo derradeiro
do Nada pavoroso...

Este é o espinho agudo que me irrita:
este medo da Morte... este terror...
Pensar que tudo que minh’alma agita
há de tragar enfim — ninguém o evita —
do Inconsciente o negror!

E não me apego aos ídolos que mentem...
E não procuro as ilusões brilhantes...
Meus olhos, sempre abertos, negras, sentem
estas sombras hiantes!

Por isto eu te saúdo... a ti, que a Morte
ousaste sem receio procurar!
Vencendo o medo que me deu a Sorte,
eu, covarde — quisera, ousado e forte,
teu arrojo imitar!