O progresso
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- By Machado de Assis
- Coletânea: Poesias dispersas
Hino da mocidade
Ao St E. Pelletan.
Eppur si muove
Ao som da tua voz a mocidade acorda,
E olha ousada de face os piamos do porvir!
Eia! rebenta a flor da longa estrada, à borda,
E através do horizonte há uma aurora a rir.
E sempre a mesma aurora a rir de era em era.
E sempre a estrada augusta a rebentar em flor!
Salve, fértil, gentil, rosada primavera!
Eterno resvelar do melhor ao melhor!
A mocidade ergueu-se. Um século dourado
Veio ao berço gentil inocular-lhe a fé;
E na orla a luzir do horizonte azulado
Mostrar-lhe como um sol a verdade de pé!
A verdade! está aí fecunda, onipotente,
Nossa estrela polar, e bandeira, e troféu!
Sim! o mundo caminha a um pólo atraente,
Di-lo a planta do vai, di-lo a estrela do céu!
Ao som da tua voz a mocidade acorda,
E olha ousada de face os plainos do porvir!
Eia! rebenta a flor da longa estrada à borda.
E através do horizonte há uma aurora a rir!
Que tal? que nos importa essa idéia sem fundo
Que estaciona e prende a humanidade ao pó?
Fala mais alto, irmãos, este avançar do mundo
E toda a natureza em um canto, num só!
Fala mais alto, irmãos, a ardente humanidade!
Marchando a realizar uma missão moral;
pregando uma lei, uma eterna verdade,
Do progresso subir a mágica espiral.
Sim! romeira gentil aos séculos se enlaça!
Na escala do progresso ela não se detém!
Uma herança moral corre de raça a raça,
Se ela desmaia aqui, vai triunfar além!
Ao som da tua voz a mocidade acorda,
E olha ousada de face os plainos do porvir!
Eia! rebenta a flor da longa estrada à borda.
E através do horizonte há uma aurora a rir!
Eia! num canto ardente erga-se ousada fronte!
Doure esta caravana um límpido arrebol!
Creiam, embora a luz a nascer do horizonte
Crepúsculo sombrio e desmaiar do sol!
Creiam-no. Um astro se ergue em céu dourado e puro E nos mostra com a luz
terra de promissão!
Cerramos sem temor, obreiros do futuro!
A verdade palpita em nosso coração!
Soa em nossa alma ardente um grito entusiasta
E às barreiras do tempo uma voz diz: — Passai!
Morte ao lábio sem fé que nos murmura: — Basta!
Gloria a vós festival que nos exclama: — Vai!
Ao som da tua voz a mocidade acorda,
E olha ousada de face os plainos do porvir!
Eia! rebenta a flor da longa estrada à borda,
E através do horizonte há uma aurora a rir!