Out. 1858

 

— Por que há de a musa que coroam rosas

Da rocha inculta só rebentam cardos:

Lágrima fria de pisados olhos

Não cabe em chão de pérolas.

 

— Por que há de a musa que coroam rosas

Vir debruçar-se no ervaçal inculto,

E pedir um perfume à flor da noite

Que o vento enregelara?

 

Minha musa é a virgem das florestas

Sentada à sombra da palmeira antiga;

Cantando, e só — por uma noite amarga

Uma canção de lágrimas...

 

A aura noturna perpassou-lhe as tranças,

A mão do inverno enregelou-lhe os seios,

Roçou-lhe as asas na carreira ardente

O anjo das tempestades.

 

Por que há de a musa que coroam rosas

Pedir-lhe um canto? O alaúde é belo

Quando amestrada mão lhe roça as cordas

Num canto onipotente.

 

Pede-se acaso à ave que rasteja

Rasgado vôo? ao espinhal perfumes?

Risos da madrugada ao céu da noite

Sem luar nem estrelas?

 

Pedem-se as rosas aos jardins da vida;

Da rocha inculta só rebentam cardos;

Lágrima fria de pisados olhos

Não cabe em chão de pérolas.

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