Ai; por Deus, por vida minha

Como és travessa e louquinha!

Gosto de ti — gosto tanto

Dessa tua travessura

Que não me dera o meu encanto,

Que não dera o meu gostar,

Nem por estrelas do céu.

Nem por pérolas ao mar!

Alma toda de quimeras

Que acordou no paraíso

Vinda do leito de Deus;

E que rivais de teus olhos

Só tens dois olhos — os teus!

Pareces mesmo criança

Que só vive e se alimenta

De luz, amor e esperança.

Ave sem medo à tormenta

Que salta e palpita e ri,

As travessas primaveras

Assentam tão bem em ti!

Assentam sim, como as asas

Assentam no beija-flor,

Como o delírio dos beijos

 

Em uma noite de amor;

Como no véu que se agita

De beleza adormecida

A brisa mole e sentida!

 

Foi por ver-te assim — travessa

Que eu pus a minha esperança

No imaginar de criança

Dessa formosa cabeça...

Foi por ver-te assim — Que os sonhos

Eu sei como os tens eu sei.

Puros, lindos e risonhos.

Um coração novo e calmo

Onde a lei do amor — é lei;

Foi por ver-te assim, que eu venho

Pôr em ti as fantasias

De meus peregrinos dias.

Como a esperança no céu:

Em ti só, que és tão louquinha,

Em ti só pôr a minha vida!

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