Daqui, deste âmbito estreito,

Cheio de risos e galas,

Daqui, onde alegres falas

Soam na alegre amplidão,

Volvei os olhos, volvei-os

A regiões mais sombrias,

Vereis cruéis agonias,

Terror da humana razão.

 

Trêmulos braços alçando,

Entre os da morte e os da vida,

Solta a voz esmorecida,

Sem pão, sem água, sem luz,

Um povo de irmãos, um povo

Desta terra brasileira,

Filhos da mesma bandeira,

Remidos na mesma cruz.

 

A terra lhes foi avara,

A terra a tantos fecunda;

Veio a miséria profunda,

A fome, o verme voraz.

A fome? Sabeis acaso

O que é a fome, esse abutre

Que em nossas carnes se nutre

E a fria morte nos traz?

 

Ao céu, com trêmulos lábios,

Em seus tormentos atrozes

Ergueram súplices vozes,

Gritos de dor e aflição;

Depois as mãos estendendo,

Naquela triste orfandade,

Vêm implorar caridade,

Mais que à bolsa, ao coração.

 

O coração... sois vós todos,

Vós que as súplicas ouvistes;

Vós que às misérias tão tristes

Lançais tão espesso véu.

Choverão bênçãos divinas

Aos vencedores da luta:

De cada lágrima enxuta

Nasce uma graça do céu.

Compartilhe