Andas nesta miséria luminosa,
Alma cheia de luz e vagabunda;
Busca-te a vida e a flor, e o sol te inunda,
E renegas do sol, do céu, da flor:
Vives na sombra das florestas virgens:
Vais às cidades; nada te consola:
Teu pobre coração mendiga a esmola
De uma miséria: anda a pedir amor...
O Gênio diz: — toma esta pena; — escreve,
Farás um livro como Dante e Homero: —
E tu respondes: — para mim não quero. —
Um anjo diz: — de um astro vais dispor;
Dominarás tu só um vasto mundo;
Vem: sobe às minhas asas rutilantes: —
E tu respondes triste, como dantes:
—Só quero uma miséria: esmolo o amor...—
O céu te oferece azuis e a vida encantos;
O mundo a arena do combate e a glória;
A pátria em branco a esplendorosa história,
Em que há de os fastos do teu nome expor:
Rasgam-te os seios dilatadas veigas,
Onde aspiras perfumes do Oriente:
Dizes-lhes só, alheado e descontente:
— Eu quero pouco — esta miséria,— o amor... —
Dão-te a mulher, que em mocidade esplende,
A carne branca, lisa e cetinosa,
Onde à neve e aos jasmins se mescla a rosa,
Mármore quente, vivo, encantador...
O anjo do Prazer te diz: — venceste:
Manda-te Deus o amor na mulher linda...
Gemes exausto: — não venci ainda!
Se podem, deem-me esta miséria, o amor... —
Sóis da vida, ambições, prazeres, glória,
Teu coração é pobre, e rude, é tosco,
Não quer, não pode carregar convosco,
Mundos cheios de vida e de fulgor:
Há na sombra de um vale um lírio branco,
Que tens em mais que estrela peregrina:
Dê-te essa esmola a sua mão divina...
Mas... quem ta der, dar-te-á teu céu de amor!