Fremem dentro de mim asas, mais asas,
Turbilhões mesmo de asas, como pode
Da terra erguer o vento, que sacode
Um pó da areia, quando tu me abrasas
Com teu olhar de chama aveludada,
Que me envolve em seus mundos luminosos,
Onde há promessas rútilas de gozos,
Sem que me dês, além de dor, mais nada...
Asas, asas, mil asas aos desejos,
Asas aos pés, aos ombros, à vontade:
Em que céus andarás, ó divindade,
A que não possam ir os meus adejos?
Oh! que eu morra na luz em que me abrasas!
Sinto que tudo em torno me abandona,
E que minha alma doida turbilhona
Em áurea poeira deslumbrante de asas.
Rasga-se o etéreo e lúcido caminho
Onde as pombas irmãs dormem arfando:
E sinto milhões de asas revoando
Para o sítio onde amor oculta o ninho.
Há um rio de neve no teu seio,
E há dois montes de leite ao lado, ó Eva!
É para aí que vou, e subo, e alteio,
E que este turbilhão de asas me leva...
Por estes céus é que me vou metendo...
Nesses montes talvez arfam, dormindo,
O casal de torcazes o mais lindo,
Que busco, um turbilhão de asas movendo...