Em regra o trabalhador volante, peão, requer três coisas –
Paga certa aos sábados, boia engordurada e tarimba de dormir,
onde não haja piolho de galinha.
Um dia entrei num rancho que tinha cedido
para um trabalhador “bater” um capoeirão de um vizinho.
Olhei, num canto uma trempe apagada,
um caldeirão de feijão e carne-seca cozidos pela metade.
E a cama? Um jirau de forquilhas, no lastro, paus roliços,
de forro algumas folhas secas de bananeira,
travesseiro – uma telha retirada do beiral do rancho.
Esse mesmo trabalhador chamou um ajudante para apressar o trabalho.
De mal jeito foi alcançado por um pé de pau.
O medo da responsabilidade no caso da invalidez do companheiro,
internamento, médico, remédios, dias pagos.
Foram à cidade. Indiquei um médico amigo no sentido de melhorar a situação.
Voltaram, nenhuma fratura, repouso apenas de uns dias.
Nosso sítio tinha abrigo disponível.
Um trabalhador ofereceu ao ofendido a própria cama e seus panos.
Fui ver o doente e o que encontro: o dono da cama com uma bacia d’água
lavando os pés do machucado para que não lhe sujasse as cobertas.
Ele, o samaritano, já tinha arranjado uns baixeiros para dormir no chão
ao lado da cama.
Estas e outras do viver dos humildes.
A vida tem a melhor expressão no trabalho constante
nem sempre remunerado, mas que seja contínuo.
O homem não aceita a ociosidade. Sofre com ela, é a sua angústia maior.
As autoridades têm três deveres a cumprir: dar terra ao homem da lavoura,
fixá-lo na gleba. Não consentir no seu desligamento do meio onde foi criado,
ajudá-lo no possível. Ali na terra está a harmonia e integridade
do grupo tribal. Tangidos para a cidade, é a desagregação familiar,
a desilusão, a incompatibilidade urbana, o desarranjo total, a perdição.
Nada do que imaginou se realiza e a unidade é destruída.