
Cecília Meireles
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NÃO CANTES, não cantes, porque veem de longe os náufragos, veem os prêsos, os tortos, os monges, os oradores, os suicidas. Veem as portas, de novo, e o frio das pedras, das escadas, e, numa roupa pret...
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I PROCUREI-ME nesta água da minha memória que povoa tôdas as distâncias da vida e onde, como nos campos, se podia semear, talvez, tanta imagem capaz de ficar florindo... Procurei minha forma entre os...
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HOMEM vulgar! Homem de coração mesquinho! eu te quero ensinar a arte sublime de rir. Dobra essa orelha grosseira, e escuta o ritmo e o som da minha gargalhada: Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Não vês?...
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GOSTO de gota d'água que se equilibra na fôlha rasa, tremendo ao vento. Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra: e ela resiste, no isolamento. Seu cristal simples reprime a forma, no instante...
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MEUS OLHOS eram mesmo água, — te juro — mexendo um brilho vidrado, verde-claro, verde-escuro. Fiz barquinhos de brinquedo, — te juro — fui botando todos êles naquele rio tão puro........................
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AQUI estou, junto à tempestade, chorando como uma criança que viu que não eram verdade o seu sonho e a sua esperança. A chuva bate-me no rosto e em meus cabelos sopra o vento. Vão-se desfazendo em des...
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NUM dia que não se adivinha, meus olhos assim estarão: e há de dizer-me: «Era a expressão que ela ùltimamente tinha.» Sem que se mova a minha mão nem se incline a minha cabeça nem a minha bôca estreme...
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CONVÉM que o sonho tenha margens de nuvens rápidas e os pássaros não se expliquem, e os velhos andem pelo sol, e os amantes chorem, beijando-se, por algum infanticídio Convém tudo isso, e muito mais,...
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MUTILADOS jardins e primaveras abolidas abriram seus miraculosos ramos no cristal em que pousa a minha mão. (Prodigioso perfume!) Recompuseram-se tempos, formas, côres, vidas... Ah! mundo vegetal, nós...
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ENCOSTEI-ME a ti, sabendo bem que eras sòmente onda. Sabendo bem que eras núvem, depús a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí...
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SUBITO pássaro dentro dos muros caído, pálido barco na onda serena chegado. Noite sem braços! Cálido sangue corrido. E imensamente o navegante mudado. Seus olhos densos apenas sabem ter sido. Seu lábi...
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TU ÉS como o rôsto das rosas: diferente em cada pétala. Onde estava o teu perfume? Ninguém soube. Teu lábio sorriu para todos os ventos e o mundo inteiro ficou feliz. Eu, só eu, encontrei a gota de or...
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TEU NOME é quási indiferente e nem teu rôsto já me inquieta. A arte de amar é exatamente a de ser poeta. Para pensar em ti, me basta o próprio amor que por ti sinto: és a idea, serena e casta, nutrida...
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ÉS PRECÁRIA e veloz, Felicidade. Custas a vir, e, quando vens, não te demoras. Fôste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas. Felicidade, és coisa estranh...
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TUA passagem se fez por distâncias antigas. O silêncio dos desertos pesava-lhe nas asas e, juntamente com êle, o volume das montanhas e do mar. Tua velocidade desloca mundos e almas. Por isso, quando...
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A MINHA vida se resume, desconhecida e transitória, em contornar teu pensamento, sem levar dessa trajectória nem êsse prêmio de perfume que as flôres concedem ao vento.
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A VENTANIA misteriosa passou na árvore côr de rosa e sacudiu-a como um véu, um largo véu, na sua mão. Foram-se os pássaros para o céu. Mas as flôres ficaram no chão.
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NESTAS pedras caíu, certa noite, uma lágrima. O vento que a secou deve estar voando noutros países, o luar que a estremeceu tem olhos brancos de cegueira, — esteve sôbre ela, mas não viu seu esplendor...
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O VENTO voa, a noite tôda se atordoa, a fôlha cai. Haverá mesmo algum pensamento sôbre essa noite? sôbre êsse vento? sôbre essa fôlha que se vai?
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NÃO TINHA havido pássaro nem flores o ano inteiro. Nem guerras, nem aulas, nem missas, nem viagens e nem barca e nem marinheiro. Nem indústria ou comércio, nem jornal nem rádio, o ano inteiro! Nem car...
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PASSARAM os reis coroados de ouro, e os heróis coroados de louro: passaram por êstes caminhos. Depois, vieram os santos e os bardos. Os santos, cobertos de espinhos. Os poetas, cingidos de cardos
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TOCA essa música de sêda, frouxa e trêmula, que apenas embala a noite e balança as estrêlas noutro mar. Do fundo da escuridão nascem vagos navios de ouro, com as mãos de esquecidos corpos quási desman...
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I A MENINA enfêrma tem no seu quarto formas inúmeras que inventam espantos para seus olhos sem ilusão. Bonecos que enchem as grandes horas de pesadelos, que lhe roubam os olhos, que lhe partem a garga...
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O CHÔRO vem perto dos olhos para que a dôr transborde e caia. O chôro vem quasi chorando como a onda que toca na praia. Descem dos céus ordens augustas e o mar chama a onda para o centro. O chôro foge...
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ÁGUA DENSA do sonho, quem navega? Contra as auroras, contra as baías: barca imóvel, estrêla cega. Bate o vento na vela e não a arqueia. — Não foi por mim! Partiram-se as cordas, rodaram os mastros, os...
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A ENGRENAGEM trincou pobre e pequeno inseto. E a hora certa bateu, grande e exata, em seguida. Mas o toque daquele alto e imenso relógio dependia daquela exígua e obscura vida? Ou percebeu siquer, enq...
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A TUA RAÇA de aventura quis ter a terra, o céu, o mar. Na minha, há uma delícia obscura em não querer, em não ganhar... A tua raça quer partir, guerrear, sofrer, vencer, voltar. A minha, não quer ir n...