Brilhante como uma estrela,
criança e já numa cova!
J. EUSTACHIO DE AZEVEDO

Ter doze anos somente
E nesta idade sofrer!
Sonhar um porvir ridente
E nesta aurora morrer!

Eis o que foi-te a existência,
Ó desditosa Angelina!
Doce lírio de inocência,
Pobre floco de neblina.

Como dois botões pequenos,
Duas flores orvalhadas,
Teus olhos dormem serenos,
Sob as pálpebras cerradas.

Voaste, meiga criança,
Tão feiticeira e mimosa,
Como um riso de esperança,
Como uma folha de rosa.

É triste morrer no fim
De uma manhã de esplendores...
A fronte ocultar, assim,
Numa grinalda de flores.

E sentir, por entre a dor
Da derradeira agonia,
De mãe um beijo de amor
Roçar a fronte já fria...

Quando, num suspiro leve,
Est’alma que o corpo encerra,
— Como uma pomba de neve
A desprender-se da terra —

Num voo suave e franco,
Fugiu para o céu de anil...
Vestiram-te, então, de branco,
Como uma noiva gentil.

No setíneo caixãozinho,
Mais puro que as alvoradas,
Depuseram teu corpinho,
Entre as cambraias nevadas.

Aí, no funéreo leito,
Toda coberta de rosas,
Tendo cruzadas ao peito
Duas mãozinhas formosas;

Pareces um anjo santo,
Envolto em gélido véu,
Transpondo azulado manto,
Como em procura do céu.

Eu sigo-te o voo alado,
Pela esfera diamantina,
Ó meu anjo imaculado,
Ó minha santa Angelina!

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