Eu te amo
- Detalhes
- By Adélia Josefina Fonseca
- Coletânea: Ecos da Minha Alma
Careço de li, meu anjo,
Careço do teu amor,
Como da gota do orvalho
Carece no prado a flor.
G. Dias.
Lembra-te a hora bendita
Em que o nume, com carinho,
Te derramou na minha alma
Como a sombra no caminho.
Lamartine.
Astro, que tão poucos dias
O meu mundo alumiaste,
Tu, que nele refulgias,
E tanto me fascinaste,
Por que fugiste tão cedo?
Por acaso houveste medo
De mais tempo aqui brilhar,
E foste, então, teus fulgores,
Distante de teus amores,
Noutra plaga derramar?
Não vês que a débil plantinha,
Privada do teu calor,
De saudade se definha,
Se definha de langor?
Não vês que viver não pode,
Se um raio teu não acode
A sustentar-lhe o viver?
Não vês que, sem teu cuidado,
Este pesar extremado
Bem cedo a fará morrer?
Por que a dor lhe não evitas,
Que a vai consumindo assim?
Mais que esta a terra, que habitas,
Tem atrativos para ti?
Por isso lá permaneces?
É por isso que te esqueces
Da plantinha emurchecida,
Sem reparar que da triste
Aos tufões já não resiste
O tênue fio de vida?!
Não; não são os encantos da terra,
Que te atraem, que te prendem, meu bem;
É a lei de invencível destino,
Que distante de mim te retém.
E que encanto encontrar poderias,
Que atrativo acharias aí,
Se de amor lá não vive quem faça
Tão subidos extremos por ti?
Nem quem busque mirar-se em teus olhos
Com a profunda, indizível ternura,
Com que meu coração, enlevado,
Nesse espelho mirar-se procura.
O que nos teus olhos leio,
Ninguém o soletra, eu creio,
Ninguém o entende, anjo meu;
Ninguém sabe a frase linda,
Que Deus, com bondade infinda,
Neles para mim escreveu.
Não viste a frase querida
Nos meus olhos refletida,
Quando encontravam os teus?
Não viste-a na minha alma escrita,
Com devoção infinita,
Após o nome de Deus?
Nos meus risos de ventura,
Nos meus prantos de amargura,
Não n’a viste transluzir,
Quando, do mundo esquecida,
De minha alma toda a vida
Fui nos teus lábios sumir?!
Ah! dos Ecos da minha alma
Quando as folhas percorreste,
Essa frase encantadora
Impressa nelas não leste?
Não n’a viste nessa — Queixa?
Nessa do — Sonho — ilusão?
Nos gemidos da — Saudade?
No — Delírio — da paixão?
Nessa palavra, que a esmo
Caía dos lábios meus,
E que tão mago sorriso
Desafiava dos teus?
— Eu te amo — não leste mil vezes
No receio, com que eu evitava
Teu olhar, em que o siso perdia;
Que tão ébria de amor me prostrava?
Quando falas com o astro das noites,
E de amor meigo olhar nele fitas;
Quando em brando silêncio o contemplas,
E nos nossos amores meditas;
Minha vista suspensa não vês
Lá nos raios fulgentes da lua,
Com enlevos de amor infinito
Procurando encontrar-se com a tua?
E depois, numa só confundidas,
Repassadas de imensa ternura,
A cismar como atônitas ficam,
Futurando sublime ventura?!
— Eu te amo — meus olhos te dizem,
E te dizem meus lábios também;
Teu olhar me responde: — Eu te amo
No suave volver que ele tem.
Quanto amor cá na terra imaginas,
Quanto julgas que o céu pode ter,
De teus olhos ressumbra, meu anjo,
Resumido no doce volver.
Ah! volta, volta depressa!
De teu olhar o condão
Mc livre deste martírio,
Que me rala o coração.
Vem alumiar meu mundo,
Que todo trevas ficou,
Dos que o seu astro tão lindo
De aparecer-lhe deixou!
E traze à débil plantinha,
Privada de teu calor,
Que emurcheceu, consumida
De tua ausência com a dor,
A vida, a paz, a ventura,
Num teu sorriso de amor.