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Canto patriótico

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By Adélia Josefina Fonseca
Adélia Josefina Fonseca
Coletânea: Ecos da Minha Alma

I

A lira, já condenada,
Talvez, a silêncio eterno,
Hoje desperta, animada
Da pátria ao grito materno.
Se jazia adormecida,
Não tinha perdido a vida,
Podia ainda acordar;
Firme o coração, que outrora
Do Brasil cantou a aurora,
Nunca deixou de pulsar.

Nunca; e palpitando estreme
Por ver-te, ó pátria, exaltada,
De indignação hoje treme,
Vendo-te assim humilhada!
Ai de mim!... fraca mulher,
Que tanto almeja poder,
E que só pode almejar!...
Esta fraqueza — bem vejo —
Amortalha o vão desejo,
Que sinto de te vingar.

Desde o começo da vida,
Como a luz dos olhos meus,
Tenho amado, estremecida,
Todos os primores teus.
Corno hei de, pois, indolente,
Ver um pérfido insolente
Nodoar teu pavilhão,
Sem que deseje, indignada.
Ver tanta injuria lavada
No sangue desse vilão?!

II

Qual foi o fado, que te deu, sinistro,
Esse Ministro, quebrantado e velho,
Que, ouvindo insultos dos mandões britanos,
Aos longos anos não pediu conselho?!

Que deixa, inerte, deslustrar a vitória,
Que a nossa história juvenil, proclama?!
Que aos louros, ganhos por briosa gente,
Deixa ao descrente marear a fuma?!

Que culto, ó pátria, eu não rendera ao velho,
Se fora espelho dos heróis de outrora!
Se na resposta, que em teu nome dera,
Mostrar soubera quanto és livre agora!

Não creia, entanto, o insular ousado
Ter-nos manchado com seu vil insulto;
Que os descendentes de leais guerreiros
Não são cordeiros de um rebanho inútil.

Os que souberam, com gentis façanhas,
Da força e manhas triunfar dos lusos,
Depois de livres, como o sol dos bravos,
Hão de hoje, ignavos, se curvar a intrusos?!

III

Já da tragédia medonha
Do Monarca do oceano,
Porque o cobre de vergonha,
Não se recorda o britano!
Sim, dos seus abandonada,
A guarnição malfadada,
Preza do fogo e do mar,
Perecera horrivelmente,
Se o brasileiro valente
Não n’a fosse resgatar.

Para opróbrio seu nos mares,
Outro caso ainda existe,
Que nas crônicas vulgares
Um nome lhe dá bem triste:
Foi quando à Vasco da Gama,
Não do incêndio na chama,
Mas da procela no horror,
Em socorrer vacilara,
E essa glória deixara
Do brasileiro ao valor.

Que valem ébrias armadas
Dessas raças aviltadas
Pelo nefando egoísmo?
Que valem canhões raiados
Contra peitos couraçados
De ingente patriotismo?

Lê, britano, a tua história,
Nela aponta qual a glória,
Que te faz tão orgulhoso!
E teres dado à mesquinha,
De Escócia infeliz rainha,
Um cadafalso afrontoso?!

Glorificam-te as lembranças
Dessas míseras crianças,
Filhas do quarto Eduardo,
Mandadas asfixiar,
Com barbarismo sem par,
Pelo perverso Ricardo?!

Nem valeu aos inocentes
Serem dois anjos dormentes
No mesmo leito abraçados;
Que esse quadro, tão do céu,
Não tocou, não comoveu
Os peitos dos condenados!!

Vê na página sangrenta,
Que o brilho inda mais aumenta
De teu dourado brasão,
Rolar de Carlos primeiro,
Por mão de algoz traiçoeiro,
A cabeça pelo chão!

Quantas cenas horrorosas
Mancham as folhas anosas
Da medonha história tua!
Se nas brenhas a escutassem,
Talvez que as feras pasmassem
De uma fereza tão crua!

Monstro, que na África ardente
Vais o negro libertar,
E deixas, incoerente,
Em teu seio vigorar
Lei iníqua, revoltante,
Dando ao marido o poder 
Da própria mulher vender
No leilão mais aviltante!!

Ímpio, que, após tantos crimes,
As outras nações oprimes
Pelo nefando egoísmo,
Contra teus canhões raiados
Temos peitos couraçados
De ingente patriotismo!

Temos a honra, a bravura,
Temos na alma a fé mais pura
Para vencer-te na liça;
Temos um solo invejado,
Um Soberano ilustrado,
Temos de Deus a justiça.

  1. Dor e esperança
  2. À Angelina
  3. Uns olhos
  4. Eu te amo
  5. A aurora brasileira
  6. Ao meu coração
  7. Ao Sr. Augusto Frederico Colin
  8. Ao Sr. Dr. Antônio Gonçalves Dias
  9. Teus olhos
  10. Ao amor
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