(A morte do Sr. Visconde da Pedra Branca)

Não morreu! volveu só a terra à terra!
O que era frágil cinza, a sepultura
No avaro seio para sempre se encerra!
Mendes Leal. 

I

Cortada pelos gemidos,
Pelos soluços sentidos
Da mais profunda saudade,
É a triste despedida,
Que hás de, em meus versos carpida,
Receber na eternidade!

E o adeus derradeiro
De um coração verdadeiro,
Que muito te quis na vida;
Último adeus de quem jura
De ti guardar a mais pura,
Lembrança nunca esquecida.

Ai! por que fatal acaso
Só do sol no triste ocaso
Um reflexo pude ver?!
Frouxo reflexo de um raio,
Que a palidez do desmaio
Já de todo ia esconder?!

Cheguei tarde... apenas pude
Sobre o fúnebre ataúde,
Em pranto os olhos fitar!...
A gratidão, a amizade,
A dor de extrema saudade
Resumia nesse olhar.

O cálix da desventura,
A transbordar de amargura,
Que eu tragasse a sorte quis;
Rasgando com violência
Do meu livro da existência
Uma folha bem feliz!

Nessa folha afortunada,
Por tuas mãos preparada,
Tinhas escrito — amizade; —
Dela o que resta? somente
Uma lembrança na mente;
No coração a saudade!

Ai! por que fatal acaso
Só do sol no triste ocaso
Um reflexo pude ver?!
Frouxo reflexo de um raio,
Que a palidez do desmaio
Já de todo ia esconder!

II

Àqueles que tanto amaste,
E cá na terra choraste,
Lá no céu te vais unir;
Vais ver o filho adorado,
Cuja perda terminado
Fez-te crer o teu porvir.

E longo tempo assim creste;
Mas no futuro morreste
Quando teu filho morreu?
Não; que Deus para consolar-te,
E da perda compensar-te
Um novo filho te deu;

Mimosa flor de inocência,
Que do tronco da ciência
Num rebento despontou.
No porvir sentiste a vida,
Quando a florinha querida
Tão gentil desabrochou. 

III

Da filha e mãe extremosa
A dor o filho sorria,
O valor não conhecendo
Do tesouro que perdia!

Mãe quando uni dia d esse bem superno
O preço avaliar,
Irá com o pranto do chorar materno
Seu pranto misturar,

Quando mais tarde à sombra da ramagem
Dos chorões do jazigo,
For queixumes carpir, beijando a laje
Que cobre o extinto amigo,

Irei dizer-lhe, das lições lembrada
De se venerando pai,
Que, se o corpo do justo volve ao nada,
O espírito para o céu vai.

Que esse, que, tão em flor, deixou-lhe a vida,
Teve, entrando os umbrais da eternidade,
A recompensa ao justo prometida,
Que lhe adoçou dos filhos a saudade.