Que lindo sonho que eu tive
Esta noite em meu dormir!
Oh! quem me dera que os sonhos
Não costumasse mentir.

Por que não fiquei dormindo,
Se estava um sonho tão lindo
Meu coração a embalar?
Por que essa voz desabrida
Arrancou-me à doce vida,
Que desfrutava a sonhar?

No sonho eu realizava
As venturas, que sonhava,
Velando em meditação;
Nele via partilhado
Este sentir abrasado,
Que me queima o coração.

Como feliz me não cria,
Quando a prova recebia
De constante, ardente amor!
Como então julguei bem pagos
Esses dias aziagos,
Que passara entregue à dor!

Fui ditosa, em extremo ditosa,
N'esse instante passado a dormir;
Em lugar da saudade, em meu peito
Vi a flor da esperança se abrir! 

Sonho! sonho, que assim me iludiste,
Um momento me dando feliz!
Apesar de cruel me enganares,
Quanto meu coração te bendiz!

Eu bem sei quanto dói a lembrança
De que foi tudo isso ilusão;
Eu bem sei que ninguém correspondi:
Aos extremos do meu coração.

Se, porém, acordada penando,
Levo os dias tão triste a gemer,
Eu o sonho abençoo, querido,
Que um instante me deu de prazer.

Dá-me, meu Deus, a promessa
De outra noite como essa,
Que me fizeste gozar!
Tudo sofrerei contente,
Com a esperança somente
De assim outra vez sonhar.

Ah! quem dera fosse infindo
O sonho que era tão lindo,
Meu coração a embalar!
Maldita a voz desabrida,
Que arrancou-me à doce vida,
Que desfrutava a sonhar!