O tosco produto de mente acanhada
Quiseste num canto sublime exaltar;
Ao som desacorde de lira tão rude
Harmônico acento quiseste chamar.
Teu gênio inspirado, que ao céu se remonta,
Que, estrela formosa, no espaço já brilha,
Benévolo honrando das musas a filha
Lhe anima o talento, que apenas desponta.
Um hino lhe deste de tanta poesia,
Que o Vate de Inês, se ao mundo tornasse,
Ouvindo-te as notas tão meigas, tão doces,
Talvez que esse hino mimoso invejasse.
Teus louvores agradeço;
Mas conheço
Que os não posso merecer;
Minha musa tão mesquinha,
— Coitadinha! —
Apenas sabe gemer.
Mas inda que gema aflita,
Não imita
Da rola o terno queixume,
Quando lhe roubam do ninho
O filhinho,
Que nele abrigava implume.
Não tem do cisne a voz pura,
Na tristura
Do derradeiro cantar;
Modulando, ao som das águas,
Suas mágoas,
Antes da vida findar.
A voz da miséria louca
É tão rouca,
Que agradar não pode a alguém;
Só tu dela dó tiveste,
E lhe deste
Canto que afiná-la vem.
Minha pobre, inculta musa,
De confusa,
Nem te sabe responder;
Teus louvores agradece;
Mas conhece
Que os não pode merecer.
Se eu tivera um engenho inspirado,
Um engenho que ao teu igualasse;
Se uma lira eu tivera divina,
Que tão bem, como tu, dedilhasse;
Oh! da pátria o amor, que admiras,
Qual o sinto no meu coração,
Nessa lira cantar altaneira
Fora o meu mais honroso brasão.
Sim; que a terra, que adoro extremosa,
A nenhuma minha alma compara;
E a ventura de amá-la, de vê-la,
Pelo trono melhor não trocara.
De — sua alma no livro — o poeta,
Retratando da pátria a lindeza,
Diz — ciúmes sofrer, se imagina
Outra terra, que a vença em beleza.
Eu, porém, que na minha contemplo
Primavera perene a sorrir,
Não concebo que possa no mundo
Um país tão formoso existir.
Quando vejo esta terra, que eu amo,
Por estranha nação ultrajada;
Quando, ingratos, alguns de seus filhos
Não se importam de vê-la abismada;
De profunda tristeza oprimida,
Choro o mal do meu belo país,
E só vivo ditosa e me alegro,
Quando altivo ergue a fronte feliz.
Pátria! Pátria gentil, feiticeira!
Terra santa, desta alma querida!
Quanto não estimara ser homem
Para inteira te dar minha vida!
Linda terra do meu berço,
Quanto me viras folgar,
Se a troco de minha vida
Te fizesse prosperar!
Embora invejoso estranho
Te atribua imperfeições;
Amara, quando os tivesses,
Esses teus mesmos senões;
Mas não os tens, pátria amada;
És formosa sem senão;
Tu, das nações do Universo,
És a mais bela nação.
Bem como a lua às estrelas
Em fulgores ultrapassa,
Assim tu, país querido,
Aos outros vences na graça!
Linda terra do meu berço,
Quanto me viras folgar,
Se a troco de minha vida
Te fizesse prosperar!
Mas não posso defender-te
Contra bélicos furores;
Só tenho, para dar-te, um peito,
Que por ti morre de amores;
Um peito, que ardente e louco,
Sabe por ti palpitar;
Que exulta com teus triunfos,
Que chora com teu penar.
Tu és a cópia formosa
Do paraíso de Adão;
Tu, das nações do Universo,
És a mais bela nação.
A ti, Vate, que prezas meus versos,
Eu na lira tentara cantar,
Se essa lira divina tivera,
Que tu sabes tão bem dedilhar.
Mas, que importa que louve teu gênio
Nestes cantos tão rústicos meus,
Se os humildes insetos da terra
Também erguem louvores a Deus?
Eu, Poeta, aprecio e admiro
De teu gênio o superno condão;
Pasmo, ao ver amplo voo elevá-lo
A etérea, imortal região!
Tua lira, por Deus afinada,
Como harpa de Arcanjos ressoa,
Se amarguras entoa da vida,
Se de amor as delícias entoa.
Um caminho juncado de rosas,
O Senhor ordenou-te seguir;
Para ti, com justiça, prepara
Escolhido, brilhante porvir.
Oh! prossegue na senda de glória
Que te abriu o Supremo Juiz!
Não recues, se houver nela espinhos;
Os espinhos serão teu matiz!