Do que gosto.

Eu gosto de ver o mar azulado
Douradas areias sereno banhar;
Eu gosto de vê-lo bramir iracundo
E sobre rochedos a fúria quebrar.

Eu gosto de ver um céu de safiras,
Um céu de janeiro com almo luar;
Eu gosto de vê-lo bem negro e medonho
Terrível mostrando querer desabar.

Eu gosto de ver o sol radiante
No roxo horizonte formoso assomando;
Eu gosto de vê-lo, da tarde no termo,
A fronte abrasada no mar mergulhando.

Eu gosto de ver a triste rolinha
Carpir do consorte saudades na ausência;
Eu gosto de vê-la amante, extremosa,
Manter dos filhinhos a tênue existência.

Eu gosto de ver a rosa entreaberta,
E mais — rociada das gotas do orvalho;
Eu gosto de vê-la, nos dias de inverno,
Em triste desmaio pendente do galho.

Eu gosto de ver o níveo cordeiro
Na relva viçosa mansinho dormindo;
Eu gosto de ver o tigre indomável
No centro das matas sanhudo rugindo.

Eu gosto de ver um campo esmaltado
De belas florinhas, que espalhara odor;
Eu gosto de vê-lo bem árido, inculto,
Sem flor, sem perfumes, que inspiram amor.

E mais que do sol, do céu, do cordeiro,
Do campo, da rosa, da rola e do mar,
Eu gosto de ver da linda Sofia
Um riso nos lábios, divino, pousar.