(No seu desposório)
Anjo querido, que o pranto
Tantas vezes me enxugaste,
Tu, que de amarga saudade
O negro fel me adoçaste,
E seus agudos espinhos
Menos pungentes tornaste;
Tu, de quem a voz maviosa
Tanto eu gostava de ouvir,
Quando, exprimindo os encantos
De teu profundo sentir,
Vinha, qual sopro celeste,
Na minha alma se sumir;
Tu, que tens a voz de um anjo,
Que tens de um anjo a beleza;
Tu, que dele herdaste o nome,
Tu, que lhe herdaste a pureza:
Que és a irmã de minha alma,
Que te adora estremecida,
Cujo livro não tem folha,
Que por ti não fosse lida;
Embebe, como soías,
Nela o teu olhar tão puro,
E lê, de intensa amizade,
O que em vão dizer procuro.
Vê aí, como dirijo
Ardentes preces a Deus,
Para que enfeite os teus dias
Das lindas flores dos céus.
Possa o mortal que escolheste,
E concedeu-te o Senhor,
Realizar teu sonhado
Éden sublime de amor!
Possa ele, como espero,
Tua alma compreender,
Fazendo que os anjos tenham
Inveja do teu viver!!