Ecos da Minha Alma
Adélia Josefina Fonseca
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- By Adélia Josefina Fonseca
- Coletânea: Ecos da Minha Alma
(À Angelina)
O que te diz, doce amiga,
O que te diz essa estrela,
Que em tuas longas vigílias
Sempre te ri, meiga e bela?
Essa estrela que, mimosa,
No firmamento fulgura;
Em que fitas meigos olhos,
Repassados de ternura?
Que através de claro vidro
Nas insônias te aparece,
Qual companheira extremosa,
Que de ti jamais se esquece?
Vem as lembranças queridas
Do passado te avivar?
Ou as venturas, que sonhas,
Te promete realizar?
Se assim é, porque tão triste
A contemplas, suspirando,
E de Ofir líquidas pérolas
Estão teus olhos destilando?
Acaso não acreditas
No que essa estrela te diz?!
Tão bela, tão virtuosa,
Receias ser infeliz?
Ah! receias que te engane
A companheira mimosa,
Que em tuas longas vigílias
Sempre te ri carinhosa?!
Que, com dolosos protestos
Ela te queira iludir?
Que, fraudulenta, procure
De quimeras te nutrir?!
Desterra esses vãos temores;
Vê como te olha enlevada;
Confia na mensageira
A ti por Deus enviada.
E por que hás de em tua alma
Aninhar cruel suspeita?
Refletida nessa estrela
Não sabes quanto és perfeita?
Havia o Senhor criar-te,
Adrede, gentil e pura,
Para que fosse a desgraça
Partilha da formosura?
Não o creias, não o temas;
Deus, que te fez tão formosa,
Quer, Angelina, que sejas
Quanto bela, venturosa,
Deixa chorar seu destino,
Quem não tem, como tu tens,
Uma estrela, que, luzindo,
Lhe vaticine mil bens;
Quem o seu astro querido
No céu não pode avistar,
Senão coberto de nuvens,
Que o privam de fulgurar;
Quem do passado só guarda
Recordação, que o lacera;
Quem aborrece o presente;
Quem do porvir nada espera.
Tu, porém, anjo, acredita
No que essa estrela te diz;
Tão bela, tão virtuosa,
Não temas ser infeliz.